Não deveria ser uma justificativa, mas acabou sendo: demorei a apresentar uma nova postagem por aqui, pois estava me recompondo das últimas taxações que sofri!
Sim! Novamente meus carrinhos foram tributados absurdamente pela Receita Federal e Estadual! Dessa vez o tranco foi tão violento, que fui obrigado a quebrar o cofrinho e usar as economias para liquidar as tributações, e assim não perder os modelos comprados.
Minha primeira ideia foi xingar desenfreadamente a mãe, o pai, os filhos, avós, e todos os envolvidos na operação de taxação, além de propor uma perseguição aos mesmos, com fins canibais! Definitivamente, essas últimas experiências tributárias “despertaram em mim os instintos mais primitivos”, lembrando Roberto Jefferson, o estopim do mensalão. Mas graças ao tempo, que é sim, o Senhor da Razão, resolvi mudar o foco, e por isso, apresentarei aqui algumas das principais dificuldades encontradas pelos colecionadores, para manterem suas coleções num país de terceiro mundo como o Brasil.
A primeira grande dificuldade do colecionador surge na aquisição dos itens do seu acervo. A grande maioria dos carrinhos colecionáveis encontram-se no exterior, e por isso, coleções formadas a mais de 20 anos, merecem uma consideração mais do que especial, pois foram concebidas sem o auxilio da internet, ou seja, sem sites de compra e venda on-line. Os colecionadores mais antigos encomendavam com amigos que viajavam ao exterior, para que estes trouxessem na bagagem algum carrinho para seu acervo. Os mais abastados financeiramente faziam essas viagens, aproveitando para aumentar a coleção com peças raras compradas pessoalmente. Alguns itens colecionáveis eram e ainda são oferecidos no Brasil, mas sempre com preços elevados, o que acaba inviabilizando muito as coleções. Com a popularização da internet no início da década de 90, e mais recentemente, a popularização dos cartões de crédito, ficou muito mais fácil para formar uma coleção, ou até mesmo para adquirir uma já iniciada por algum colecionador estrangeiro.
Mas como todo bônus tem seu ônus, sobrou para o transporte internacional, e nacional também, esse peso na conta do colecionador! Cansei de comprar itens por 40 e gastar 50 com o envio. Tudo bem se o item é raro e vale os 90 que vai custar, mas quando essa conta não bate, dá uma raiva enorme por morar no fim do mundo! A despesa de envio é um valor que não agrega nada ao item adquirido, portanto, quanto mais longe do fornecedor, mais cara será a coleção. Outro fator que anda me tirando o sono, nessa mesma questão do envio, é o péssimo serviço prestado pelos Correios. Mesmo tendo uma boa experiência com os serviços dos Correios, ainda me surpreendo com algumas situações, que vão além de caixas danificadas severamente e a demora excessiva na entrega. Nas minhas últimas encomendas tributadas, não recebi a solicitação de comparecimento a agência para quitar e retirar a encomenda. Em três caixas, só recebi o aviso de uma, as outras duas, nem sinal de fumaça! Por sorte, acompanhei o rastreamento fornecido pelo vendedor, e sabia o momento em que estavam aguardando retirada na agencia. Mas fica um alerta, para aqueles colecionadores que compram sem saber o número de rastreamento: fiquem atentos, pois as encomendas podem ser devolvidas ou então, leiloadas para quitar a tributação.
Seguindo na ordem, depois de comprado o item raro no exterior, efetuado o envio da melhor maneira possível, e tudo isso por um valor bem acessível, eis que surge o terceiro e mais temível inimigo do colecionador: a tributação! E eu, como citei acima, já estou curtido em tributação, infelizmente! Essa é com certeza a pior experiência que o colecionador pode passar, ganhando em gênero, número e grau daqueles itens que chegam danificados de forma irreversível, devido ao transporte desleixado, normalmente ocorrido no território nacional.
Posso explicar facilmente o motivo dessa grande frustração, e tenho vários exemplos para dar, mas um em especial, vivido alguns dias atrás, e que acabou me aborrecendo a ponto de abandonar a coleção por um tempo! Procurei um item raro por mais de um ano, na verdade foram dois anos, e depois de quase desistir e até duvidar da existência do tal item, acabei encontrando-o. Surpreendentemente, a peça rara encontrava-se a venda num site privado, duma loja localizada na França.
Depois de batalhar com a escrita em inglês, pois tentar um diálogo em francês poderia levar a negociação pro buraco, consegui me fazer entender e fechei negócio com o vendedor. O valor do envio não foi bem o que eu esperava, ficando um pouco além do aceitável, mas foi exigência do vendedor, usar um sistema de transporte seguro e rápido para concretizar o negócio. Foi um momento tenso, pois golpistas habitam todas as partes do planeta, inclusive o primeiro mundo, e negociar através de um site privado é extremamente arriscado, pois é a ferramenta mais usada para golpes no cartão de crédito. Mas ocorreu tudo da melhor forma possível, e em cinco dias após o pagamento, a caixa já estava no Brasil, e aí sim, começava o meu sofrimento.
Foram gastos aproximadamente mais quinze dias entre a fiscalização, tributação e liberação por parte da Receita Federal, que encaminhou a encomenda aos Correios para a entrega. Esperei por mais cinco dias, e como não recebi o aviso dos Correios para pagar os tributos e retirar a encomenda, fui até a agência, munido do número de rastreamento da caixa, e com uma enorme esperança de que a tributação seria bem suave.
Que nada! A taxação foi para arrebentar com qualquer possibilidade deste colecionador adquirir algum outro item no exterior tão cedo! O governo precisa de receita para manter seus “programas sociais”, o fiscal da receita quer as gratificações por maior arrecadação, os Correios ganham o seu feijão com arroz pelo serviço de entrega da encomenda, que na verdade não vale nem uma água com sal, e eu, o colecionador, fiquei com a conta dessa turma toda para pagar, e tudo a vista e em dinheiro! Foram 60% de impostos federais, mais 32,7% de impostos estaduais, gerando um total de quase 93% de impostos, e isso sobre o valor total, somando o valor do item mais o valor do envio!
A conta que faço é bem simples: se morasse na França e comprasse o item diretamente na loja, com o mesmo valor que gastei aqui no Brasil para adquirir apenas um item, lá eu teria condições de comprar pelo menos três itens raros para a minha coleção, ou seja, paguei por três, mas recebi apenas um!


